Torre de controlo ferroviária

Localização: entre linhas ferroviárias

Autor: José Ângelo Cottinelli Telmo (1897-1948)

Encomendador: Companhia dos Caminhos de ferro portugueses

Data: construção entre maio de 1936 e setembro de 1938; inauguração em outubro de 1938; desativada em 2004

Materiais: alvenaria, betão, ferro e vidro

Categoria/Tipologia: Arquitetura civil

Arquitetura funcionalista

Classificação: Imóvel de Interesse Municipal em 2002 (ID 4980645)

Análise

Arquitetura

Situada entre linhas, a construção destaca-se pelo desenho rigoroso e a grande originalidade da volumetria, com o corpo principal esguio, de seção retangular com a frente arredondada, que a meia altura se alarga, através de dois volumes laterais em forma de paralelipípedos, sobre as quais assenta a plataforma de vigia da estação, esta já com a caixilharia metálica modernizada.

Ao conjugar harmoniosamente a estrutura de betão e ferro com grandes superfícies de vidro revela uma feição modernista elegante e de perfil inovador, tirando partindo dos envidraçados, mereceu à data da inauguração referências elogiosas dos meios arquitectónicos nacionais e internacionais.

Funcionalidade

Estas infraestruturas ferroviárias revestiam-se de elevada funcionalidade, sendo tipicamente desenvolvidas em 3 pisos interligados por escada (no caso de Pinhal Novo em caracol) dado o tipo de tecnologia de sinalização instalada

Os equipamentos de sinalização ferroviária eletromecânica da Siemens foram os responsáveis pela realização dos movimentos de comboios na estação, de forma segura.

A torre de sinalização da estação de Pinhal Novo é um exemplo concreto de uma estrutura que operou durante décadas, ininterruptamente, e geriu o complexo nó ferroviário de Pinhal Novo (o mais movimentado do sul do país), contemplando ligações a Penalva, Moita, Montijo, Poceirão e Palmela.

As alterações introduzidas pela recente ampliação da estação de Pinhal Novo, esta torre de controlo esteve ameaçada de demolição ou, em solução alternativa mas não menos radical, de transplantação de sítio, refletindo-se em polémicas na comunicação social. A intervenção da Junta de Freguesia de Pinhal Novo, da Ordem dos Arquitetos e de João Paulo Martins, investigador da obra de Cottinelli Telmo, que considerou esta obra um “verdadeiro adereço cenográfico que explorava de uma forma inventiva as possibilidades expressivas da arquitetura moderna”, permitiu que esta obra continue a ser um dos marcos mais importantes da arquitetura do século XX, tendo sido considerada Imóvel de Interesse Municipal de Palmela em 2002

Torres ferroviárias projetadas por Cottinelli Telmo

Na Estação ferroviária de Ermesinda, 1935-37
Na Estação Ferroviária de Pinhal Novo, 1936-38
Na Estação ferroviária de Campolide, 1940

O arquiteto

Arquiteto e cineasta português, José Ângelo Cottinelli Telmo nasceu a 13 de novembro de 1897, em Lisboa, tendo falecido a 18 de setembro de 1948, em Cascais, vítima de um acidente de pesca.
Cottinelli Telmo estudou Arquitetura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, tendo completado o curso em 1920. Enquanto estudava arquitetura, começou também a dedicar-se ao cinema, tendo colaborado na realização dos filmes Malmequer e Mal de Espanha, ambos de 1918, realizados por Leitão de Barros e produzidos na Lusitânia-Film.
Muito jovem tornou-se conhecido pelos seus dotes para a arquitetura em 1922 quando desenhou o Pavilhão de Honra da Exposição do Rio de Janeiro. Sete anos mais tarde foi escolhido para conceber o Pavilhão de Portugal na Exposição de Sevilha de 1929.

Cottinelli Telmo (1897-1948)
Entrada da Exposição do Mundo Português, 1940

Em 1940 atingiu o ponto máximo da carreira ao ser designado Arquiteto-Chefe da Exposição do Mundo Português, que teve lugar em Lisboa, em Belém, junto ao Rio Tejo. Cottinelli Telmo projetou a Praça do Império e a Fonte Monumental, o Monumento dos Descobrimentos, juntamente com Leopoldo de Almeida, e a Porta da Fundação.

Planta geral da Exposição do Mundo Português, 1940

Outras obras importantes de sua autoria foram a fábrica da Standard Elétrica em Lisboa e a Cidade Universitária de Coimbra.
Já desde 1938 era diretor da revista Arquitetos, função que manteve até 1942.

Fábrica da Standard Elétrica, Lisboa
Cartaz do filme “A Canção de Lisboa” primeiro filme sonoro totalmente feito em Portugal e realizado por C. Telmo (Infopédia)

Entretanto, em 1932 havia unido a arquitetura ao seu interesse pelo cinema e construiu, com A. P. Richard, o Estúdio da Tóbis, no Lumiar, em Lisboa. No ano seguinte recorreu ao Tóbis para aí realizar A Canção de Lisboa, um clássico do cinema português que contou com as interpretações de Vasco Santana, António Silva, Beatriz Costa e Manoel de Oliveira, mais tarde um conceituado cineasta. Esta obra tornou-se um modelo do cinema cómico nacional. A Canção de Lisboa foi o primeiro filme sonoro completamente produzido em Portugal.



A junção da arquitetura ao cinema resultou também nos filmes ViaMáquinas e Maquinistas e Obras de Arte, todos de 1937, numa altura em que era arquiteto-adjunto da CP – Caminhos de Ferro Portugueses.
Ligado às Artes Plásticas e às Letras, Cottinelli Telmo foi um dos pioneiros da banda desenhada em Portugal.
Cottinelli Telmo morreu precocemente a 18 de setembro de 1948, vítima de um acidente enquanto pescava em Cascais.

Fontes documentais:

Barrento, Nuno Silvério – A torre de sinalização do Pinhal Novo, APAI – Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial, Grupo de Trabalho do Património Ferroviário, 2021, in: https://apaiassociacao.wixsite.com/apai/projectos

Infopedia https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$cottinelli-telmo

Martins, João Paulo -COTTINELLI TELMO – A criação do mundo, Revista Arquitectura & Construção, Setembro 2004 in: http://citizengrave.blogspot.com/2013/01/cottinelli-telmo-criacao-do-mundo.html

Torre de Sinalização e Manobra da Estação Ferroviária de Pinhal Novo -Direção Geral do Património Cultural http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/4980645/

Serrão, Vitor e José Meco – Palmela Histórico-Artística, um inventário do património artístico concelhio. Lisboa/Palmela: Edições Colibri/Câmara Municipal de Palmela. 2007

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